BOAS E MÁS NOTÍCIAS por Fausto Camunha

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 Saí da Globo no final de 1973,  em razão de um desentendimento com um superior. Não se discutiu quem estava com a razão. Ele ia dizer que era ele e eu, a mesma coisa. Preferi novos ares. Fui para casa pensando em como iria sair dessa.

No dia seguinte, 6 horas da manhã, toca o telefone. Acordei assustado. Nessa hora geralmente é notícia ruim. Mas, desta vez não. Era o Fernando Vieira de Mello, diretor de jornalismo da Rádio Jovem Pan.

– Fausto, você não vai ficar nenhum dia desempregado. Pode tratar de ir acordando e venha aqui para a rádio conversar comigo!

– Claro. Obrigado. Estou indo.

Coincidentemente, havia uma vaga de editor do noticiário das 13 horas. Era apresentado pelo José Nello Marques, Nelson “Tatá” Alexandre e Odayr Baptista. Foi maravilhoso  conviver com o Fernando e conhecer mais de perto Antonio Del Fiol, José Carlos Pereira, Wanderley Nogueira, Chico Verani, o “Barão” Fittipaldi, Marco Antonio Gomes, Orlando Duarte, Milton Parron, Fausto Silva, Franco Neto, Milton Neves,  Antonio Alexandre e tantas outras figuras.

Saí da Jovem Pan, seis meses depois, atendendo ao convite do Walter Sampaio, que tinha assumido a direção do jornalismo da TV Cultura. Chamou a mim, para ser o editor-chefe do Departamento e o Vicente Tambasco para a chefia de reportagem. A TV vivia um momento muito ruim politicamente, mas aceitei o desafio. Levei comigo alguns poucos jornalistas, outros saíram, mas a maioria ficou. E entre os que ficaram, o Wladimir Herzog. Ele era o editor de um telejornal ao meio-dia. Vivíamos um período de muita turbulência política, mas enfrentávamos a ditadura com a devida altivez.

Muitos colegas nossos eram marcados pela Policia Federal e por várias vezes tivemos que interferir em favor deles, mas nem sempre essa tarefa dava certo. Era muito difícil admitir prisões de jovens, pais de família e todos profissionais muito competentes. Pagaram um preço muito alto por lutar contra a ditadura.

Quando José Mindlin assumiu a Secretaria de Cultura do Estado, Walter Sampaio caiu. Com ele, eu e o Vicente Tambasco. Ia assumir a direção do Departamento o Wladimir Herzog, que tinha deixado a TV Cultura poucos meses antes. Ele me ligou e pediu para que ficasse, dizendo que, na gestão dele, eu permaneceria na emissora. Achei melhor, e por solidariedade ao Walter, deixar também a televisão, mas fiquei muito honrado com o convite do Wlado.

Infelizmente nos dias que se sucederam a Policia Federal fechou mais ainda o cerco na TV Cultura, culminando com a prisão do Wladimir Herzog, que acabou morrendo nos porões do DOI-CODI. Vários outros companheiros também foram presos e torturados, numa sequência de fatos imensamente tristes e doloridos que ficarão para sempre registrados na história do país. E nos nossos corações também.

2 COMENTÁRIOS

  1. FAUSTO TUDO QUE VOCE RELACIONOU EU ASSINO EMBAIXO PORQUE EU PARTICIPEI ATIVAMENTE DESSE EPISÓDIO TALVEZ VOCE NÃO SE LEMBRE DE MIM EU ERA DA ARTE DO TELEJORNALISMO JUNTO COM MARIO FANUCHI LEMBRA-SE?

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