O PRANTO DA EX-PORTA BANDEIRA por Kiko Campos

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A Banda Segura no Bagre concentrava na Pindorama e saía sentido praia. Tomava a avenida da praia à direita, entrava na Ana Costa, contornava a Praça da Independência (momento maior do desfile), seguia pela Galeão Carvalhal, Governador Pedro de Toledo e dispersava na Pindorama defronte ao Heinz. Todo ano escolhíamos um personagem ou uma instituição para ser homenageada.

 

Salvo engano no ano de 1986, por sugestão do Mesquita, aprovou-se a homenageada seria a TABA – Turma Aliada do Boqueirão Amigo, bloco carnavalesco, organizado entre outros pelo Chaddad, e que desfilava no Banho da Dorotéia. Ocorre que o pessoal da TABA se reunia nos Lanches Praia – Epitácio Pessoa com Conselheiro Nébias – e decidiu-se mudar o itinerário da banda para que a homenagem fosse mais contundente e, afinal, o artista tem que ir onde seu povo está. Formamos na Pindorama sentido bairro, viramos à direita na Governador Pedro de Toledo, à direita da Conselheiro Nébias (passando, portanto, defronte ao Lanches Praia),  avenida da praia à direita e daí seguia igual ao itinerário original. Nos anos seguintes adotaríamos esse itinerário.

 

Nossa porta bandeira, desde os primeiros desfiles, era Wilma (nome fictício e em homenagem à eterna porta bandeira da Portela). Não sei que ano foi que Mesquita decidiu afastar Wilma e entregar a bandeira para o Marcoleti. Foi um bá-fá-fá geral. Wilma gritou, esperneou, mas não teve jeito. Não sei o que levou o Mesquita a tal decisão, mas foi mantida.

 

No dia do desfile Marcoleti surgiu absolutamente exuberante. Um maiô inteiro feminino, cavado, pink, com mais brilho que sol de meio dia. Nos pés uma sandália com salto altíssimo plataforma, da mesma cor do maiô e que lhe conferia uns 2,00 metros de altura. Peruca Chanel, cílios postiços longuíssimos, maquiagem pesada e perfeita compunham o visual fantástico.

 

E sai a banda. Na Governador Pedro de Toledo, por ser uma rua mais estreita, o desfile é meio apertado e as pessoas se amontoam. À frente a faixa de saudação, a ala das crianças – tinha até bebê em carrinho – e em seguida nosso Porta Bandeira, dando conta do recado, mas um pouco acanhado em razão do pouco espaço.

 

Todavia ao virar na Conselheiro Nébias, que é muito mais larga, a banda se espraia e Marcoleti detona. Cruzando a avenida de lado a lado com total desenvoltura, requebrando e balançando a bandeira com expertise, com quase 2,00 metros de altura e tendo Lord Mesquita ao seu lado, a ovação é inevitável. O povo na sacada dos prédios aplaudindo de pé e lançando papéis picados e serpentinas. Os que assistem dos meios fios extasiados. A consagração é geral. A banda arrebenta.

 

Eu, em cima do caminhão de som, no meio de toda aquela alegre e formidável barafunda observo uma cena comovente e que poucos viram: na esquina da Conselheiro Nébias com a praia, meio que escondida no murinho do Cibus, Wilma desmancha-se em lágrimas.

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