COMO PARAR DE FUMAR por Mário Rubial

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Eu também já fumei.

E comecei prematuramente: com 12 anos! Acreditam?

Pois é, eu queria muito ser adulto. E adulto como os galãs de cinema daquele tempo: Clark Gable, Humphrey Bogart e por aí vai.

Como fui ridículo: imberbe, com aquele cilindro no canto da boca. E crente que estava abafando!

Perdi meu pai com doze anos e fui morar com meus tios, Ignácio e Irene, para que minha mãe pudesse trabalhar e refazer nossa vida.

Fui tratado como um filho e nunca senti nenhuma diferença em relação aos meus primos. E mais do que primos: são meus irmãos, até hoje!

Moramos em vários lugares, mas conto uma historinha que se passou numa casa da Alameda Jaú, nos Jardins. Confortável, mas como era muito antiga, só dispunha de um banheiro, cuja janelinha dava para a calçada.

Tinha 14 anos e não trabalhava. Minha mãe e meus tios se esforçaram muito para que eu estudasse. E,obviamente, eu não tinha dinheiro. Ganhava algum, fazendo pequenos serviços para os tios, como lavar os carros, algumas entregas e uma mesadinha da minha mãe. Mas que não dava para comprar cigarro. E claro, eu fumava escondido.

Meu tio Ignácio fumava. E tinha uma característica: dava 3 ou 4 tragadas e descartava o cigarro no cinzeiro. E quase intacto, pois não esmagava o dito cujo. Só eliminava a brasa. E eu ficava de olho para recolher aquelas maravilhosas e enormes bitucas. Mas, e onde fumar?

Lá veio a ideia brilhante! Me fechava no banheiro, acendia o cigarro, puxava a fumaça, tragava e, para não ficar cheiro, expelia pela janela que dava… para a rua! Onde meu tio ficava batendo papo com os vizinhos. E eu soltando fumaça pela janela!

Um dia ele me chamou.

– Marinho,vá no bar e compre 2 maços de cigarro Piccadilly, que era a marca que ele fumava.

Estranhei pois ele só comprava um maço por vez.

– Dois maços, tio?

– Um para mim e outro pra você.

Sem graça e, provavelmente ruborizado, gaguejei:

– Mas, eu, eu nem fu, fumo…

– Deixa de bobagem. Faz tempo que vejo a fumaceira que sai da janela do banheiro. Seja homem e assuma. E nada de pegar cigarro de estranhos, sentenciou! E tem mais: vou pedir para sua mãe aumentar a mesada para você comprar o cigarro.

Vida passou e lá pelos meus 27, 28 anos continuava a fumar. Mas, como todo fumante, querendo parar. Tentava daqui, dali, e não conseguia. E sempre trocando ideias com outros amigos fumantes, que também tentavam.

Dois deles me ajudaram muito: Edmilson Moura e Miguel, o Lino.

O Moura, ou Mourinha como eu o chamava, era uns 20 anos mais velho. E nos dávamos muito bem. Trabalhávamos na Editora Abril, onde ele era meu chefe. Uma das pessoas mais humanas que conheci na vida. E um dos maiores redatores que já existiram no mercado publicitário.

Mourinha fumava um cigarro chamado Shelton. Era comprido, com 100 milímetros, como diziam nos comerciais.

Certo dia, num almoço, Mourinha me disse:

– Sabe Marinho, preciso parar de fumar. Não ando me sentindo bem. Fiz uma conta que me deixou preocupado.

– Multiplicou o número de maços pelo preço e viu o baita estrago financeiro, observei.

– Não, fiz sim uma conta, mas… em metros!

– Como assim?

Mourinha andou a explicar.

– Fumo há muitos anos, 3 maços por dia. Multiplicando por 100 milímetros, cheguei à conclusão que dá uns 120 quilômetros de cigarro! Ou seja, é como se eu tivesse acendido um cigarro no início da Via Anchieta, fosse fumando até Santos e retornando a São Paulo. Não dá mais!

Aquilo me tocou. E o Mourinha, pouco tempo depois, parou.

E vem a história do Lino.

Era um publicitário, dono de uma agência com único cliente. O ideal para ele. Aliás,o nome da agência era IDEAL.

Lino atendia a Elclor. Bem cedinho, visitava o cliente, distribuía o trabalho na agência e ia para o Palmeiras jogar tênis. E, pelo menos uma vez por semana, eu e Mourinha nos encontrávamos com ele para almoçar no restaurante Kienle, próximo ao clube. E eu pedia sempre o mesmo prato: Filé à Royale. Nem sei se a grafia era essa. Mas sempre uma delícia. Tanto que, em muitos anos de frequência, não conseguia pedir outro prato.

Num dos almoços, Lino, que era um fumante e bebedor contumaz, comentou:

– Fui ao médico, para exames de rotina. E sabem o que ele falou?

– Lino, você gosta de fumar e beber. Mas chegou num ponto que você terá de optar: ou só fuma, ou só bebe!

E Lino comentou conosco.

– Pensei, pensei e… concluí: entre beber e fumar… o cigarro, convenhamos, é tudo igual. Uns mais fortes, outros mais fracos mas, no fundo, todos iguais. E fedorentos! Vou optar pela bebida.

– Mas por quê?, perguntamos.

Explica o Lino:

– O whisky é diferente da vodka, que é diferente do rum, que é diferente do vinho, etc., etc…

Com todos esses argumentos e, considerando que esses dois amigos eram referência, resolvi abandonar o cigarro.

Não sem antes uma despedida.

  1. Ano do meu casamento.

Sempre frequentei várias turmas, em bairros diferentes. E sempre a mesma história:

– Marinho, você tem de pagar a saideira da solteirice. E lá ia eu. Com muita alegria, claro.

Na última, cheguei em casa, to-tal-men-te briaco.

Acordei no dia seguinte sem condições de respirar, quanto mais fumar!

Cigarro, nem pensar.

Passou um dia, dois, três… aproveitei e parei.

É isso. Um bom método de parar de fumar é encher a cara. Mas sem exagero, viu?

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Marinho, ótima história. Por pouco meu pai não consegue ler e responder ele mesmo. Nunca mais fumou, mas em compensação tomou seu whiskyzinho até os 85. Só agora, quase aos 91, foi criar, desenhar, pintar, ouvir jazz e almoçar no céu

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