CORNOWAGEM E O REI DO GADO por Mário Rubial

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2021

Estranharam o título? Curioso, não é mesmo?

Mas a história é engraçada. E real!

Na minha passagem pela TV Globo, participei de várias situações pra lá de interessantes, na área de licenciamento das marcas da emissora.

Como exemplo, linha de brinquedos TV Colosso, sandálias Globeleza, etc.

Nosso “enorme” departamento contava com este que vos escreve e a Andrea Duran, fantástica profissional da área.

Como era rotina, todos os programas que seriam exibidos na Rede Globo, começavam com uma sinopse para análise das áreas envolvidas.

No nosso caso, quais oportunidades haveriam para licenciamento de produtos.

Chega a sinopse do “O Rei do Gado”. Eu e Andrea, como de hábito, nos reunimos para analisar o conteúdo.

Era uma novela rural, contando a saga de criadores de gado e seu universo.

Logo de cara uma situação envolvendo o casal principal da trama: Bruno (Antonio Fagundes), Léia (Sílvia Pfeifer) e Ralf (Oscar Magrini).

Resumindo: Léia e Bruno eram casados e o Ralf, amante da Léia. Escândalo e o casal acaba separando. O Bruno, civilizadamente, aceita.

Nesse exato momento da leitura da sinopse falo para a Andrea.

– Lendo este texto, volto aos anos 60. Acho que você nem tinha nascido. Essa coisa da traição era muito séria. Ninguém admitia ser traído. Ser chamado de corno era pior do que cuspir na bandeira do

Brasil. Ainda hoje é um pouco assim.

Naquela época, a Volks lançou um modelo de Fusca, com teto solar. Grande sucesso na Europa, começou vendendo “ às pampas”, como se dizia. Mas aí, um gaiato qualquer apelidou o carro de

CORNOWAGEM, já que a abertura no teto era para dar espaço para os chifres do motorista. Resultado: quem tinha o carro mandou soldar o teto solar, e pintar para disfarçar. E a Volkswagen suspendeu a

produção.

Comentei com a Andrea que esse tipo de coisa era passado e que, nem de longe, interferiria no nosso trabalho.

Levantamos as oportunidades para o licenciamento dos produtos e, de cara, elegemos chapéu de vaqueiro, botas e cintos.

Cintos para a Fasolo, botas para a Quebec e chapéu, que na nossa opinião seria o grande sucesso, para Chapéus Cury, marca de tradição no segmento.

Viajamos para Campinas e lá fomos recebidos pelo Paulinho Zakia, dono da Cury. Um cara espetacular, simples, direto e um autêntico vaqueiro. Apresentamos o projeto e o entusiasmo do

Paulinho foi enorme. Lá mesmo fechamos as condições do contrato e bola pra frente.

Depois de 30 dias, após a assinatura do contrato, ligo pro Paulinho. Novela bombando nos primeiros capítulos. E, na maior expectativa, pergunto:

– E aí, amigo, posso mandar o carro forte para trazer a grana da Globo?

Silêncio no outro lado da linha.

– Paulinho, está me ouvindo?

– Tô.

– E então, como foram as vendas?

– Que vendas, Marião? Foi um baita fracasso.

– Como assim? – pergunto.

– Vou contar. Fabriquei um monte de chapéus. Peguei um exemplar e fui até meu principal distribuidor. Meti o chapéu do Rei do Gado, com a marca da novela, e entrei na sala do cara. Sabe o que ele me disse?

– E aí, Paulinho, cadê os furos do chapéu?

– Que furos, perguntei.

– Os furos pra sair os chifres daquele corno manso excomungado, que é traído e deixa a “muié” livre, leve e solta.

E continua o Paulinho:

– Vocês de São Paulo e Rio de Janeiro aceitam esse tipo de coisa, mas no Brasilzão é diferente.

E o licenciamento do Rei do Gado foi um belo fracasso.

Num país de dimensões continentais como o Brasil, o que vale numa região não vale para outra.

É preciso muito cuidado na hora de comunicar qualquer coisa em rede nacional.

E como diz o povão: “Chifre não existe. Isso é coisa que puseram na tua cabeça”.

 

 

Frase de boteco

Toda a história tem três lados:

O meu, o seu, e a verdade.

E nenhum está mentindo

Robert Evans

 

 

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