E VIVA MANÉ. por Kiko Campos

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Na década de 60, era pré-tecnologia virtual, toda a diversão da molecada ocorria na rua. Pião, botão, balão, bolinha de gude, tá vivo/tá morto, uma na mula, empinar papagaio, esconde-esconde, taco e as famosas peladas ou jogar bola como era mais conhecido em Santos.
Normalmente o dono da bola era o mais grosso e, só jogava, por ser dono da bola, mas ninguém o queria no time. O segundo pior ia para o gol. Por vezes combinava-se um regulamento e, a cada gol tomado, trocava-se o goleiro, de sorte que todos passassem pelo gol. Quando não havia jeito e ninguém queria ir para o gol a decisão adotada era Salomônica, pois o jogo havia de acontecer: gol caixote. Quando batia o cansaço ou as mães estivessem no portão com o chinelo na mão, pois o jantar ou almoço estava na mesa, vinha o famoso grito: “quem fizer o último gol acaba”. Não importa quanto estivesse o resultado, quem fizesse o último gol saía vencedor e o jogo acabava. 
Não raro havia jogo contra a turma de outra rua e se fosse rua rival então, a coisa tomava formas de guerra mundial. Levava-se um pouco a mais de moleques para garantir as brigas que eram quase inevitáveis. 
Os deuses do futebol à época eram Pelé e Garrincha. Pelé havia encantado o mundo na Copa de 58 e, a despeito da passagem quase apagada na Copa de 62, por contusão no segundo jogo, era o Rei. Garrincha arrebentou na Copa de 58 e ganhou a Copa de 62, onde fez de tudo e mais um pouco. Para a molecada que por ventura leia esse texto, destaco que essa dupla, para mim, foram deuses do futebol e, até hoje, não tiveram sucessores. Vi muita gente boa jogar, verdadeiros craques do ataque: Pagão, Didi, Coutinho, Tostão, Jairzinho, Jonas Eduardo (Edu), Paulo Cesar Caju, Rivelino, Zico, Sócrates, Reinaldo, Careca, Rivaldo, Romário, Ronaldos – Fenômeno e Gaúcho e mais recentemente Neymar. Intencionalmente só coloquei atacantes e meio campistas, pois a comparação com jogadores de defesa não me parece adequada. 
Em nível internacional não há como não destacar Cruyff, Neeskens, Van Basten, Kluivert, Paolo Rossi, Platini, Zidane, Maradona e mais recentemente Cristiano Ronaldo e Messi. 
Obviamente que as listas brasileira e internacional não são completas e foram tiradas da memória apenas para ilustrar o texto e afirmar que, até agora, ninguém atingiu o Olimpo, como o fizeram Pelé e Garrincha. 
Pois bem, nos jogos contra ruas rivais alguns moleques chegavam ao pedaço imitando o Garrincha, para intimidar o adversário. Imitação fisicamente grosseira, pois das pernas do Garrincha, a esquerda era torta para dentro e a direita para fora e isso é impossível imitar, exceto se o cara nasceu assim. A imitação consistia em arquear as pernas, no estilo roubaram meu cavalo, e entortar os pés para dentro. 
Começava o jogo, via-se que os imitadores não eram sequer sombra do Garrincha, a pelada corria aguerrida, sem muita técnica, mas muita vontade e, via de regra, o pau quebrava. 
Minha singela homenagem ao Mané. Ave Garrincha.

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