Dinheiro de mão em mão: bancos, se cuidem

Por Gabriel Rossi

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Não é de hoje que a chamada “economia colaborativa” está em voga. Desde a crise de 2008, ainda sentida ao redor do mundo, o tema ganhou espaço em muitas das grandes empresas. O Uber, que transporta gente conectando-se diretamente a outra gente, é o maior exemplo. As bicicletas compartilhadas, outro. Mas nos últimos meses teve início uma revolução no mercado financeiro, ainda na infância, no Vale do Silício, que promete estabelecer de vez a economia colaborativa no dia a dia das pessoas: um sistema para se obter dinheiro de outras pessoas, não de bancos.

À primeira vista pode parecer algo sem novidade, pois, afinal, pedir dinheiro emprestado de amigos e parentes sempre foi comum. Mas a maneira estruturada e o envolvimento de grandes quantias sem um agente financeiro no meio são revolucionários.

Diversas startups começam a desenvolver plataformas que conectam diretamente quem poupa a quem toma dinheiro. Isso representa juro menor para o consumidor e transforma o sistema em algo mais seguro, pois, por exemplo, o dinheiro não pode ser retirado a qualquer momento.

Os primeiros esforços que apareceram revelando esse fenômeno eram chamados de “peer-to-peer (P2P) lending”. Basicamente, as pessoas publicavam na internet coisas que precisavam de empréstimos para serem concretizadas (cirurgia plástica, uma extensão da sala de casa etc.) e outras pessoas se ofereciam para conceder o empréstimo, com diferentes taxas. Sem bancos, sem intermediários. Por falta de rigor e maturidade do fenômeno, mais da metade desses empréstimos falharam.

Hoje, olhando para os Estados Unidos, berço da tendência, as operações estão mais refinadas e consideravelmente mais profissionais. E, assim, estão crescendo. A espinha dorsal dessa transação não é mais apenas o modelo “peer to peer”, já que o dinheiro emprestado para essas transações vem de um conjunto diversificado de investidores, não só de indivíduos. Agora há alguma espécie de intermediação, fornecida pelas melhores plataformas. Informações como análise do tomador são explicitas para os participantes.

A grande revolução é essa: as novas plataformas são capazes de criar um mercado onde os credores e devedores podem encontrar um ao outro e concordar (ou não) com os termos, sem qualquer envolvimento de bancos de varejo ou empresas de cartão de crédito. Um novo mercado nasce. Uma grande oportunidade, um desafio que chacoalha as convenções do sistema financeiro no mundo.

Pode ser ainda tímido, mas o sistema tem enorme potencial de transformação. Sem os bancos tradicionais como intermediários, credores oferecerão taxas mais baixas para os mutuários e obterão, pelo menos em tese, melhores retornos. Em suma: as pessoas poderão conseguir dinheiro de outras pessoas, ignorando as corporações.

É possível que em um futuro não tão distante esse tipo de modelo conquistará uma boa fatia de mercado e novos produtos estarão disponíveis, com crédito imobiliário, seguros etc. Crédito ao consumidor é simplesmente a primeira carta que está sendo tirada do castelo do sistema tradicional.

O setor tem potencial para gerar mais de um trilhão de dólares pelo mundo até 2025.  Criar esse mercado não é tarefa fácil, mas já existem empresas remando a favor do vento. É só colocar no Google nomes como Lending Club, Prosper e Kiva.

Essa tendência veio para ficar, especialmente porque é regida por três grandes forças: social (as pessoas compartilham mais e há questionamentos sobre a prática bancária, por exemplo), econômica (escassez de recursos) e tecnológica (ascensão de uma geração que cresceu com a internet e se conecta com outras pessoas em proporções muito maiores do que antes).

Um mercado está surgindo. A ruptura continua. As corporações do sistema financeiro ainda podem escolher em qual lado da história querem estar: fazer parte dessa revolução repensando modelos de negócios e fomentando essas iniciativas (encontrando uma denominador comum para o tipo de retorno que espera) ou assistir de camarote e provavelmente serem guilhotinados. É um caminho sem volta.

Gabriel Rossi é palestrante e estrategista de marketing, branding e cibercultura, especializado na construção e gerenciamento de marcas e reputação.

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