Essa é a primeira pergunta que as pessoas fazem ao ouvir Hans falando de sua grande paixão: o Brasil.
Nunca vi, em toda a minha vida, alguém amar tão despudoradamente o Brasil. Gosta tanto desse país, que casou com uma das mulheres que mais representam a beleza das brasileiras: Valéria Valenssa.
Conheci o Hans durante os quatorze anos que trabalhei na TV Globo. Nossa conexão foi imediata. Do relacionamento profissional, logo surgiu uma grande empatia pessoal. Semanalmente, eu viajava para o Rio por causa das minhas funções na criação da área de Licenciamento, que logo depois transformou-se na Globo Marcas. E, mesmo quando não havia motivo, eu passava na sala do Hans para um abraço e um papo cordial.
Para os mais novos, que talvez não saibam, Hans Donner é um dos mais celebrados designers, reconhecido em todo o planeta. Rigorosamente, toda a comunicação visual da TV Globo foi criada pela mente privilegiada desse “brasileiro”.
O primeiro “plim-plim” ou, o “globinho”, foi criado pelo Hans num guardanapo de papel, dentro do avião que o trazia definitivamente ao Brasil. Daí para a frente, todas as vinhetas e aberturas de programas levaram a assinatura do Hans. Novelas, programas de humor, jornalismo, tudo era criação dele. E, claro, a inesquecível Globeleza.
Mas para mim a criação mais genial foi o relógio Time Dimension. Sem ponteiros. Isso mesmo: são três discos em dégradé sobrepostos, que indicam a hora, os minutos e os segundos. Com isso o visual do relógio modifica-se permanentemente. É como você ver a Terra na metade iluminada e na outra, escurecida.
No ano passado fui ao Rio para um almoço com o Hans Donner e o Eduardo Maruche. Esse último é como um filho que adotei no Rio de Janeiro. Menino maravilhoso. Só tem um “defeito”: apesar de carioca, não sabe andar no Rio. Você entra no carro dele e pede para ir a Botafogo, ele vai para o Centro. Você pede para ir à Gávea, ele vai para Madureira. Haja GPS…
Mas, continuando, no almoço falamos de tudo: amenidades, futebol, TV Globo e, já na sobremesa, o Hans, que não para um minuto de ter ideias, me vem com mais essa, no seu sotaque característico:
– Mário, nossa bandeira não condiz com o espírito brasileiro.
– Como assim, é tão representativa!
– É linda, continua o Hans, mas repare como ela é triste.
– Não entendi, retruquei.
– Preste atenção na faixa branca onde se lê “ordem e progresso”.
– O que tem de errado?
– Foi desenhada como se fosse um sorriso sem graça, pra baixo. Você se lembra das máscaras que representam no teatro a comédia e o drama?
-Sim, claro.
– Pois bem. Do jeito que a faixa branca foi feita, parece tristeza, ou seja, o drama. Para representar alegria, própria do nosso povo, deveria ser ao contrário: o da comédia, SOR-RIN-DO!
Disfarcei, olhei para o lado, surpreso com aquela observação.
Despedidas, abraços, promessas de um próximo encontro e volto para Sampa.
Já dentro do avião, pensei naquela frase do Hans e conclui:
– Mas não é que o meu brrrasileiríssimo amigo tem razão?
E estando no Rio, vá ao Bar e Restaurante Hipódromo.
Fica na Pça. Santos Dumont, 4, Gávea.
Ótimo chope, petiscos e todos os pratos característicos de um boteco competente.
Aproveite, e dê uma esticadela até o Instituto Moreira Salles. Pesquise os arquivos e curta a história do Rio, escritores famosos e muito mais.
Fica ali pertinho do Bar Hipódromo, na Rua Marquês de São Vicente, 476, tel.:(21) 3284-7400.
FRASE DE BOTECO
“Os publicitários não se suicidam porque Deus os condenou a assistir até o fim à consequência de seus atos*. ” (Stalimir Vieira)
*Nota do cronista: para reflexão de certos marqueteiros políticos.
Mário Rubial é jornalista e escritor