Anos 80.
Rua Booker Pitman na Chácara Santo Antônio, zona Sul de Sampa.
Uma rua com características de interior. Famílias amigas, filhos idem e uma festa sem fim: churrascos no meio da rua, jogo de truco e mais, muito mais.
Progresso chegando. Atrás de nossas casas, um terreno vazio pertencente à Eletropaulo.
E bem atrás da minha casa, do Nilson e Leopoldo, outro terreno onde começaram a construir um condomínio, de prédios!
E lá ficávamos, diariamente, observando o andamento das obras.
Nilson diz:
– Essa porra de prédio vai ficar EM CIMA DAS NOSSAS CASAS! Acabou o sol, churrascos e os vizinhos vão começar a jogar lixo nos nossos quintais. Vai ter barulho e mais uma porrada de problemas.
E o que fazer?
Levantar o muro não resolve. Para solucionar, deveria ter uns 150 metros de altura. Impossível, diz o Leopoldo.
Pensa daqui, dali, e… eureka!, surge a solução.
– E se plantássemos uma “cortina de bambus”? – sugere o Nilson, acostumado com esse tipo de planta no sítio que tinha em Guareí.
VIVA, aplaudimos. Uma solução ecológica que não comprometeria o visual de ninguém e, de sobra, nos protegeria dos olhares indiscretos dos novos vizinhos.
Diz o Nilson:
– Primeiro precisamos de autorização da Eletropaulo para plantar os bambus.
– Isso é fácil, digo. A sede é aqui perto e, tenho certeza, não haverá nenhum problema.
Localizado o responsável, demos início ao plano.
Reuniões exaustivas, consultas aos montes, meses negociando e, finalmente, a autorização para plantar… os bambus!
Segunda etapa:
Onde conseguir as mudas?
Sugiro:
– Na Raposo Tavares tem um viveiro de plantas. Vamos até lá.
Realmente, um viveiro que tinha não só os bambus, como toda a floresta amazônica.
Explicamos ao dono nossa necessidade, que era urgente proteger nossa privacidade, blá, blá, blá e que a cortina de bambus deveria crescer RAPIDAMENTE!
– Isso cresce como um foguete, assegura o dono.
Compramos umas 30 mudas, pequenininhas, mas que, segundo o dono, cresceriam num piscar de olhos.
Lotamos o porta-malas da minha Parati – lembram desse modelo? – e voltamos para casa.
Entra a segunda parte do plano.
Onde encontrar um jardineiro para plantar?
Com nossa habitual incompetência, demoramos algumas semanas para encontrar o cara.
Resolvido o problema, começa nossa vigilância esperando aparecer os primeiros sinais da nossa “cortina ecológica”.
Um mês, dois meses, 6 meses, um ano! E nada.
Olhávamos o muro, na esperança de ver o primeiro sinal de um mísero bambu. Uma folhinha, apenas uma folhinha.
Nada!
Nos papos de fim semana, com muito leite, se é que vocês me entendem, eu, Nilson e Leo comentávamos:
– Pois é, acho que o cara que nos vendeu as mudas deu um belo golpe. Paciência…
Algumas semanas depois, no quintal do Nilson, cerveja, churrasco, truco, churrasco, cerveja, truco, cerveja, churrasco… alguém grita!
– Olha o bambu!
Sim, amigos, começaram aparecer os primeiros sinais dos bambus redentores para nos proteger do infame condomínio que devassava nossa intimidade!
Brindes, brindes e mais brindes!
– Estamos salvos – grita o Nilson.
Segundo ato, um ano depois.
– Essa merda de bambu está entupindo a calha do meu telhado – reclama o Leopoldo.
– Está quase entrando no quarto do meu filho – observo.
De repente, o bambu, e não vou sugerir a rima, começou a gerar problemas.
Reunião para discutir o problema. Churrasco, cerveja e truco.
– Vamos erradicar o bambu – decreta o Nilson!
– Perfeito – arremato.
Vamos à Eletropaulo pedir para que retirem os malditos bambus.
Silêncio repentino!
Diz o Nilson:
– Caraca, como vamos chegar na Eletropaulo? Não fomos nós que imploramos para que eles liberassem o espaço para plantar os bambus?
Silêncio no ambiente.
Alguém dá a solução:
– Seguinte: quem toma conta do terreno da Eletropaulo?
– Um zelador, muito amistoso.
– Então, que tal um “ajutório” para ele, no melhor estilo brasileiro?
Aplausos!
Resolvido o problema, até hoje, a aventura rende deliciosas brincadeiras.
Sempre que eu e Nilson nos encontramos, a saudação é:
– Quer um bambu, para enfiar…
De tudo isso, ficou uma grande e deliciosa amizade.
FRASE DE BOTECO
Seja como o bambu. Incline-se diante do vento mas nunca se quebre.
Provérbio chinês