No final de 2019, li uma interessante crônica do Marcelo Rubens Paiva.
O título era “O Fracasso Brasileiro” que abordava nossa “fracassomania”.
Chamou minha atenção porque, ao longo desta minha jornada de 75 anos, venho acompanhando a estranha obsessão brasileira pelo fracasso. Observada há muitos anos por Nelson Rodrigues, quando cunhou a expressão “complexo de vira-latas” para designar esse sentimento do nosso povo.
Adoramos a derrota. Parece nos dar prazer diante de um fracasso dizer:
– Bem feito! não falei?
O caso mais emblemático é o do Pelé. Aos 80 anos, continua como referência positiva do Brasil. É homenageado no mundo inteiro, incessantemente. Mas, no Brasil, só é lembrado pelo milésimo gol, desancado só porque lembrou que deveríamos cuidar melhor das nossas crianças e pelo encontro com Sandra Regina, uma filha que apareceu depois de quase trinta anos acompanhada por um advogado e um procurador. E isso num primeiro encontro, onde deveria iniciar os primeiros contatos com o pai famoso. Só faltou chamar o STF para garantir os seus “direitos”.
Outra história, referente ao nosso desmedido culto ao fracasso, foi com Emerson Fittipaldi. Aqui lembram dele como o idiota que construiu um F-1 brasileiro que vivia quebrando, ganhando inclusive o apelido de Leite Glória, aquele que desmancha sem bater, numa referência ao slogan desse leite em pó.
Agora vejam o cartel do Emerson:
2 vezes campeão mundial de F1;
2 vezes vice-campeão de F1;
2 vezes vencedor das 500 Milhas de Indianópolis, a mais emblemática corrida de automobilismo do mundo.
E tudo isso no tempo que o piloto era mais importante que todas as engenhocas eletrônicas da atualidade.
Querem mais uma prova?
Enquanto Emerson não é reconhecido no Brasil, em Miami comemora-se no dia 20 de junho o Fittipaldi’s Day, além de ter uma rua com o nome Emmo Fittipaldi.
E a lista é extensa: Chico Buarque premiado no mundo todo é tratado como um anormal. Quando João Gilberto morreu, Bolsonaro desdenhou sobre a importância do baiano. E mais uma penca de grandes nomes como Fernanda Montenegro, Caetano, Gil, Rubens Barrichello, que além de 2 vezes vice-campeão de F-1, nunca pagou para correr.
Quando leio as trapalhadas do atual ministério, meu pensamento vai direto para o humorístico Sai de Baixo.
O casal Caco Antibes e Magda era interpretado por Miguel Falabella e Marisa Orth. A personagem desta última abusava da ignorância.
E sempre que falava algo sem pé nem cabeça, o Caco dizia:
– Cala a boca , Magda!
E eu, sempre que vejo uma declaração estapafúrdia de qualquer membro do atual governo, não resisto e grito:
– CALA A BOCA, MAGDO!
FRASE DE BOTECO
Já foi publicado, mas não custa repetir:
É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota, do que falar e acabar com a dúvida.
Maurice Switzer