Quarentena em casa é fogo. Principalmente para um botequeiro como eu.
Já escrevi neste mesmo espaço: pelas minhas origens familiares e profissionais – publicitário adora um happy hour – não poderia ser um fiel frequentador de igrejas. Sem falar no meu tempo de estudante de Direito. No Mackenzie, onde o bar MacFil que ficava próximo, era meu segundo lar. E local de estudo principalmente nos dias de prova, tentando aprender, em 60 minutos, um livro do tamanho de dois tijolos para a prova que seria dada nas próximas horas.
Fui tão fiel ao MacFil que minha festa de formatura foi lá, sob as bençãos do Augusto, dono do bar.
Mas voltando à quarentena, na impossibilidade de visitar botecos para os embates etílicos, mantenho a rotina em casa na companhia da Cris, minha companheira há 50 anos. E que me conheceu botequeiro, sempre responsável, não exagerando nas doses e respeitando os horários.
E claro, não é a mesma coisa. Faltam os companheiros e as conversas sem pé nem cabeça, que geram embates enciclopédicos onde todo mundo é catedrático de alguma coisa.
Mas, obviamente, Dona Cris sempre dá uma espiadela para ver se não estou exagerando. É normal.
Quando estou sorvendo um destilado, não há problema naquela dose a mais. A tampa do whisky não faz barulho e eu despejo a última bem “chorada”. O que não consigo com a lata de cerveja e seu maldito lacre.
Não tem jeito: é impossível abrir a latinha sem fazer barulho. E claro, você se autodenuncia na saideira.
Acho mesmo que a Lei Maria da Penha exigiu dos fabricantes esse infame “alarme”.
E que ninguém reclame: saideira é uma instituição e não tem papo.
Se não acreditam, perguntem ao Rafael Cury, meu amigo de copo e de Rio.
É só entrar no YouTube e buscar o belo samba Quando Acabar.
FRASE DE BOTECO
Deve-se beber moderadamente, isto é, um pouco todos os dias. Isso não sendo possível, beber muito sempre que der. Mas o abuso, como a moderação, tem que ser aprendido. O amador que abusa tende a ser desabusado.
Millôr Fernandes
Decálogo do bom bebedor – 1971