Outro dia, ao colocar a máscara para sair de casa, lembrei que talvez estejamos condenados a usá-la para o resto das nossas vidas. E tudo por culpa da Covid.
E lá fui eu para meus afazeres devidamente mascarado.
Meu primeiro compromisso foi no banco onde mantenho minhas poucas operações financeiras. Ajeitei a máscara e me dirigi à porta-giratória onde depositei meus pertences, celular, chaves etc.
E, claro, observado pelo guarda de segurança armado.
Enquanto esperava o atendimento, lembrei dos antigos filmes de bang-bang estrelados por diversos atores que estão até hoje na memória dos mais velhos principalmente. Quem não lembra de John Wayne, Hopalong Cassidy, Terence Hill, Charles Bronson entre outros? E que todas as vezes que malfeitores atacavam um banco ou um trem carregado de dinheiro, como se disfarçavam? Com máscara, exatamente igual a que estamos usando agora!
Pensei: se eu estivesse armado, com uma coragem que não tenho nem de longe, resolvesse roubar o banco? Estaria devidamente protegido pelo anonimato mesmo com todos os recursos eletrônicos disponíveis pelo sistema bancário.
Ah, dirão:
– E o guarda armado, que fica dentro do banco? E o detector de metais?
Bem, meus leitores já estão querendo demais. Como na ficção, esse problema estaria resolvido.
Um outro problema ocasionado pela máscara é com relação a abordagem policial, numa operação de rotina.
Diz o policial para o cidadão:
– Abaixe a máscara e mostre os documentos!
Responde o cidadão:
– Você sabe com quem está falando?
Em seguida baixa a máscara e aparece a figura de um político influente, Ciro Gomes por exemplo, que do alto da sua verborragia começa a falar ao pobre policial todas as características da legislação penal.
Mesmo no dia a dia do cidadão comum, acontecem situações pra lá de constrangedoras. No meu condomínio, onde moro há doze anos, tem sido comum cruzar com um vizinho e não cumprimentar.
– Pô, Marião, não cumprimenta mais?
– Quem é você?
– Sou seu vizinho de frente há doze anos.
-Pô, desculpe, com o uso da máscara acabo não reconhecendo as pessoas.
Eu, que já sou distraído por natureza, com a memória cada vez mais comprometida pela idade, tenho passado um grande sufoco.
Sai Covid! Sai Ômicron! Sai zica!
FRASE DE BOTECO
Se os filhos das putas voassem, nunca veríamos o sol.
Provérbio argentino