Vamos envelhecendo e nos apegando a certos objetos.
Gosto muito de música pois nasci numa família com esse clima. Meu pai era dono de Taxis Dancings, onde se pagava para dançar com orquestra ao vivo, e minha mãe, cantora da Rádio Cultura que na época era a terceira ou quarta emissora de São Paulo. Com direito a contrato e ensaio junto com orquestra. E salário mensal!
Meu apartamento vivia lotado de artistas da época. Não só porque eram colegas da minha mãe ou contratados pelo meu pai, para apresentação nos cabarés Maravilhoso, Tabu e Marrocos que acabou virando Chuá. Tudo isso na década de 40 e 50. E eu, nasci em 1944. Por isso guardo certas lembranças.
Os discos eram feitos de um material rígido, que quando caía no chão, trincava. Ou espatifava. E não tinha solução: colava-se aqui e ali mas os pulos do braço do pick-up eram inevitáveis. Até o aparecimento dos antigos LPs, inquebráveis que deu um salto de qualidade e proteção às queridas “bolachas”.
Toda essa introdução porque ao longo da minha vida tive todos os tipos de discos: os que quebravam, os LPs inquebráveis, os CDs e atualmente os playlists impulsionados por Spotfy, YouTube, etc…
Mas mantenho uma enorme coleção de CDs. E que, repentinamente, deixei de ouvir por causa de um acidente com meu velho aparelho da Philco.
Até juntar o dinheirinho para comprar um novo, demorou. E eu ficava olhando meus amados CDs. E eles olhando pra mim quase dizendo:
– Pô, não dá para separar uma grana e comprar um novo aparelho? Vamos ficar mofando aqui nos armários sem poder exercer nossa profissão?
Me enchi de coragem e fui à caça de um novo. Encontrei um modesto, mas que me atendia perfeitamente: ouço num ambiente pequeno, acompanhado de uma dose de vodka ou whisky e lá permaneço por horas. É uma volta maravilhosa no tempo.
Incrível a relação de um apaixonado por música e seus CDs. É um caso de amor e cada vez que coloco pra tocar, volto ao passado com todas as imagens rolando na cabeça.
FRASE DE BOTECO
A saudade é que faz as coisas pararem no tempo.
Mário Quintana