PAPO DE BOTECO – SARDINHADA NO MANOLO por Kiko Campos

0
1705

Amigos botequeiros.

Devagarzinho a coluna vem sendo apreciada, comentada, criticada. E é assim que deve ser. Afinal, botequim é uma expressão coletiva. Se não é isso, é quase isso.

Alguns amigos já se oferecem para contar histórias. Como o da última coluna, “Mesquitinha: mestre de cerimônias de nossas vidas” escrita lindamente pelo Kiko com o título original de” Réquiem para o Mesquitinha”. E que na edição sumiu. Acontece.

Mas o importante é que em decorrência, muitos amigos prontificaram-se a contar os “causos” do Mesquitinha. Para quem não sabe, esse santista que viveu quase 72 anos, foi um cidadão do mundo. Boêmio no melhor sentido, exageradamente solidário com todos e patrocinador da alegria em qualquer lugar que estivesse.

Não me alongarei nos comentários pois, as histórias são tantas, que deixarei por conta dos nossos amigos-colaboradores.

E vai mais uma crônica do Kiko.

Mário Rubial

 

SARDINHADA NO MANOLO

Bom dia Faceland,

Tarde de sábado gris e preguiçosa. Não fui para o jogo do Náutico e resolvi ficar com a velha guarda do Bar do Manolo – atual Armazém 29. Alemão, Alcyr, Orlando, Almir, Giba, Mesquita entre outros jogávamos conversa fora, embalados por cervas geladas. Alemão, controverso como sempre, discordando de tudo e de todos, mas o papo fluía.

De repente cai do céu um cara, em uma bicicleta, com um balaio de sardinhas fresquíssimas. Essas coisas ali na Pindorama eram fenomenais. Do nada apareciam figuras absolutamente desconhecidas, a maioria vendendo alguma coisa inusitada, e que jamais retornariam. Parecia que existia ali um imã universal que atraía qualquer coisa. Mesquita não resistiu. Negociou secretamente e arrematou todas as sardinhas com balaio e tudo. E como sempre:

– Kiiiiko, vamos preparar as sardinhas.

– Estás louco. Aqui não tem fogão, panela, frigideira, porra alguma.

– Damos um jeito.

Começamos pelo Garcia – atual Paulistânia. O Garcia era dono dessas oficinas conserta tudo, muito comum em bairros, mas que pereceram com a modernidade. O negócio do Garcia era conserto de linha branca. Fogões, geladeiras, máquinas de lavar e mais um monte de tranqueira caindo aos pedaços. Mesquita conseguiu que o Garcia lhe emprestasse um fogão velho de duas bocas. Saio eu carregando o fogão e deixo no Manolo.

Próximo passo: botijão de gás e frigideira. Mesquita me chama e diz:

– Deixa comigo.

Volto para o balcão para o papo com a Velha Guarda. Não deu dez minutos surge o porteiro do prédio onde fica o Heinz carregando um botijão de gás e Mesquita com a frigideira. Conta-me que pegou tudo no apartamento da Luiza, que nessa época morava em cima do Heinz. Em seguida fomos à mercearia – atual Biruta’s – compramos azeite – Mesquita recusou-se a comprar óleo – sal e fubá.

A infra estava pronta. Faltava limpar as sardinhas. Aparecem Meleca e, salvo engano, Naninho. Mesquita convence-os a limparem as sardinhas com as facas do Manolo. Tenho a imagem na cabeça, até hoje, dos dois, de sungas, sentados no meio fio limpando sardinhas. Meleca arrumou, não sei aonde, um chapéu de palha, tipo chapéu chinês, o que lhe conferia jeitão de peixeiro profissional.

Acaba o jogo do Náutico e surgem Maloca, Miro, Jaiminho, Lino, Pelé, Emilinho e outros craques do nosso futebol de praia. Aparece, ninguém sabe de onde, um garrafão de pinga e Mocofela inicia o serviço da cachaça. Monto o fogão sobre uma mesa, ligo o gás, salgo e empano as sardinhas no fubá e começo a fritá-las no azeite. O cheiro de peixe frito invade a Pindorama. Era sardinha que não acabava mais. E gente chegando. Forma-se a mesa do truco. Batuque de samba no balcão. Cachaça de montão, cervejas geladas e sardinhas fritas. A orgia etílico/gastronômica rola até altas horas.

Os casados ouviriam sermões em casa e os solteiros dariam WO nas namoradas.

Mesquita, o mestre de cerimônia de nossas vidas – título a ele conferido pelo não menos querido Mario Rubial – havia aprontado mais uma das boas.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor digite seu nome aqui

3 × um =