Ainda em recuperação da porrada que foi a partida do Mesquita, passei a lembrar de alguns divertidos causos que começo a repartir com vocês.
A filha do Mocofela completava seu primeiro ano de vida e ele ofereceu um almoço em restaurante na Rua Minas Gerais, ali, paralela à Rua Consolação. Restaurante fechado só para os convivas. Dois grupos de samba excepcionais animavam o rega bofe. Um de São Paulo, talento puro e o outro formado por nossos incríveis amigos do Ouro Verde que haviam subido a serra.
De repente vejo Orlandinho de Freitas, meio deslocado e meio molambento. Calção samba canção, camiseta gasta e havaianas que já tinham visto melhores dias. Encosta-se a mim meio sem graça e desabafa:
– Saí de casa para ir à padaria, o malandro passa e diz:
– Sobe aí e vamos dar uma volta.
– Quando vejo estamos na estrada, vindo para São Paulo.
É o Orlandinho estava em Santos e o malandro a quem ele se referia era o Mesquita.
Botei panos quentes e falei para ele que o negócio era aproveitar. Circula daqui e dali, conversa boa com todo mundo, samba começando solto, cerveja gelada, comida mineira. Mocofela não economizou.
Cinco horas da tarde começa a dispersão. Orlandinho encosta-se de novo e pergunta:
– Ô malandro tu vais para Santos?
Respondi que sim e ele:
– Estou salvo. O outro malandro se mandou e me deixou aqui. Só tô com o dinheiro do pão.
Mesquita, que após comer tinha que dormir, havia ido embora encontrar-se com Morpheus e “esquecido” o Orlandinho. Claro que sabia que como a festa estava cheia de santistas o Orlandinho não ficaria na mão, mas não combinou nada com ninguém.
Orlandinho entrou no meu carro e, embalado pelas cachaças e cervejas, dormiu até Santos.
Detalhe para quem não conheceu: Orlandinho, nessa época, já passava dos 80 anos.
Ambos fazem muita falta.
KIKO CAMPOS