ME AJUDA, MANOEL DE BARROS, ME AJUDA. por Mário Rubial

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Sou inviável para os dias de hoje. Tenho uma enorme dificuldade de assimilar a modernidade, de utilizar e aproveitar suas conquistas que, segundo dizem, facilita a vida das pessoas.

Pode ser… Não nego. Mas que a quantidade dessas “ferramentas” é assustadora, isso é. E que não cabe nas 24 horas de um cidadão comum, isso também é verdade. Para se usar 10% dos aplicativos disponíveis seria necessário viver uns dois séculos.

Todo esse blábláblá para dizer que vivo às turras com meu novo celular. Ou será smartphone? Ou Iphone? De qualquer maneira, tomo um baile dos maledetos.

Eu estava bem com os antigos celulares. Aqueles que faziam e recebiam chamadas. Até consegui um grande avanço: sabia mandar SMS! Juro!

Mas um dia o celular quebrou. Minha filha Daniela deu o toque:

– Pai, você deve ter um monte de pontos na operadora. Vai até lá e troca por um smartphone.

Trato feito, lá foi o troglodita numa loja da operadora.

Os pontos eram tantos, que saí de lá com um aparelho mais pesado e maior que o meu velho celular. Ah, mas era 4G!

“4G”, pensei comigo. Que legal. Mas…que porra é essa? Como vai facilitar minha vida?

A atendente me garantiu: é muito simples, é só seguir as instruções do manual que está no próprio aparelho.

Pensei: “pronto, ferrou! ”. A minha dificuldade para entender um manual de qualquer coisa é fenomenal. Resultado: depois de quase espancar o aparelho demoníaco, tomei uma decisão – vou procurar um mais simples.

Fui numa lojinha do bairro e consegui, sim, consegui – porque está cada vez mais raro -, um celular pequenininho, baratinho, mas que atendia minhas necessidades.

O tal do 4G dei de presente a um amigo que está até hoje tentando conviver com ele.

Passaram-se algumas semanas e eis que o celularzinho deu uma pifada. Fui à loja que vendeu e pedi para verificarem o problema, pois deveria ser uma coisa bem simples.

Lhufas, o mardito pifou irremediavelmente. Morreu! Faleceu! Só trocando o aparelho. E daquele tamanho não fabricavam mais.

Tomei uma decisão. Vou me modernizar. Nenhum smartphone me derrotará!

Lá fui eu novamente à loja da operadora. Enfiei uns pontos disponíveis e mais algum dinheiro e saí de lá com um smartphone novinho, novinho.

Ah sim, vocês devem estar curiosos para saber como estou me saindo não é mesmo?

Saberão.

É coisa do demônio! Acho mesmo que há um complô contra mim. Há dois meses vivo às turras com o canalha. Ele me sabota, não tenho dúvida. E é todo sensível o pentelho. Mal aproximo o dedo da tela, ele já faz uma chamada sem que eu deseje. No ato desligo. Mas não adianta. A ligação já está feita. O que me cria alguns problemas.

Outro dia pensei, só pensei, em ligar para o meu amigo Roberto Krause. Quando percebo, a ligação estava sendo feita. Desliguei na hora. Eu queria combinar um almoço com o Bob, mas antes deveria consultar minha agenda. Não deu tempo.

Toca o celular:

– Maroca, você me ligou?

Respondo que não e conto toda a história do parágrafo anterior. E aproveito para desabafar, o que provoca uma avalanche de risadas no meu amigo.

Mas, enfim, o almoço está agendado e eu vou ter o prazer de reencontrar esse grande amigo que não vejo há alguns anos.

Mas, o que tem a ver o Manoel de Barros citado no título? Explico:

Para quem não sabe, Manoel de Barros foi um poeta inspiradíssimo, de uma simplicidade impressionante que nasceu e viveu até sua morte, em 2014, no Pantanal. Aos 97 anos.

Descobri o Manoel há muitos anos, através da leitura de outro ídolo: Millôr Fernandes. A partir daí virei fã do descomplicador de palavras, do desinventor do difícil e amante da natureza.

Mas o que tem a ver Manoel com smartphone?

Porque o poeta prima pela simplicidade, e o aparelho do demônio, pela complicação, rsrsrs…

Termino confessando: sempre que me atrapalho com as coisas da modernidade, mergulho na minha coleção do poeta pantaneiro. Aí vou conviver com os rios e as árvores do pantanal. Pássaros e flores. Rãs, formigas e borboletas. E tudo na companhia do Manoel.

Tem coisa melhor?

 

DICA DE RESTAURANTE

 

Galeteria Monte Grill

Grelhados de qualidade, com atendimento impecável e descontraído.

Av. Senador Casemiro da Rocha, 850 – Mirandópolis

Sampa

Tel.: (11) 5071-6295

 

POESIA DE BOTECO

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade

Das tartarugas

Mais que a dos mísseis.

Tenho em mim

Esse atraso de nascença.

Eu fui aparelhado

Para gostar de passarinhos.

Tenho abundância

De ser feliz por isso.

Meu quintal

É maior do que o mundo.

 

MANOEL DE BARROS

 

 

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